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O que é Farmácia Clínica?

              Seria fácil escolher uma definição de farmácia clínica e responder esta pergunta de forma objetiva, mas é difícil compreender o que é farmácia clínica sem voltar no tempo para entender em que contexto este conceito foi desenvolvido. Assim, aqui se procura fazer uma síntese muito breve do contexto histórico da farmácia a partir do século XX para facilitar a compreensão do tema.
            A farmácia no início do século XX estava associada à figura do boticário, que preparava e comercializava produtos medicinais. Este papel tradicional começou a ser alterado quando a preparação de medicamentos passou a ser desempenhada gradualmente pela indústria farmacêutica, a partir da Segunda Guerra Mundial.  Esse fato levou a um descompasso entre a formação do profissional e as ações demandadas pela sociedade, gerando uma frustração em alguns profissionais, pois os conhecimentos adquiridos na graduação já não eram mais aplicados de forma permanente na prática diária e acabavam se perdendo. Como consequência, os farmacêuticos, que atuavam na área assistencial, começaram a converter-se em meros dispensadores de produtos fabricados, distanciando-se da equipe de saúde e do paciente.
                As inquietudes, geradas pela situação acima descrita, levaram ao nascimento, na década de 1960, de um movimento profissional que, questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os problemas que estavam sendo detectados. Assim, líderes profissionais e educadores norte-americanos passaram a discutir o conceito de “orientação ao paciente” que levou à criação do termo farmácia clínica, compreendida como uma atividade que permitiria novamente aos farmacêuticos participar da equipe de saúde, contribuindo com seus conhecimentos para melhorar o cuidado.
            A partir de 1960 foram formulados vários conceitos para farmácia clínica, como, farmácia orientada de forma equivalente ao medicamento e ao indivíduo que o recebe, farmácia realizada ao lado do paciente, entre outros. Segundo o Comitê de Farmácia Clínica, da Associação dos Farmacêuticos de Hospital dos Estados Unidos: “A farmácia clínica é uma ciência da saúde, cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas com o cuidado dos pacientes, que o uso dos medicamentos seja seguro e apropriado, e que necessita de educação especializada e/ou treinamento estruturado. Requer, além disso, que a coleta e interpretação de dados sejam criteriosas, que exista motivação pelo paciente e que existam interações interprofissionais”.

            Os conceitos de Farmácia Clínica foram sendo paulatinamente difundidos e incorporados pela profissão farmacêutica no mundo todo. No Brasil, o grande interesse pelo tema se deu na década de 80, em especial na área hospitalar, onde esta prática desenvolveu-se com mais força. Por esta razão, ainda hoje, existe a ideia de que Farmácia Clínica é uma atividade que somente é exercida no ambiente hospitalar, onde está presente toda a equipe de cuidado do paciente. Esta é uma ideia que pode e deve ser repensada, pois o exercício da atividade clínica não pode ser uma questão de ambiente e oportunidade, mas na realidade é uma questão de filosofia profissional, ou seja, o profissional que está voltado para o exercício da clínica age como clínico em qualquer ambiente onde se requeira uma postura de avaliação de situação para identificação e resolução de problemas de saúde.

Um exemplo disso pode ser verificado diariamente na postura de profissionais clínicos diante de situações que demandem sua atuação como, em vias públicas, cinemas, aviões, ou seja, em qualquer local onde estejam presentes e surja um problema que gere necessidade de prestação de cuidado especializado: o profissional clínico percebe sua responsabilidade de atuar e age no sentido de identificar e ajudar a solucionar o problema. Pensando dessa forma podemos compreender que a atividade clínica do farmacêutico não pode e não deve ser exercida unicamente no ambiente hospitalar, mas em qualquer ambiente onde haja usuários de medicamentos que possam estar expostos ou experimentando agravos relacionados aos efeitos de seu uso.
            É importante ainda destacar que a Farmácia Clínica representou a introdução da orientação da prática farmacêutica ao paciente. Contudo, alguns conceitos propostos colocavam ainda os medicamentos como elemento principal e somente mencionavam o paciente, o que fez com que a atividade de Farmácia Clínica fosse associada tanto a atividades diretamente realizadas com o paciente (clínicas) quanto com atividades realizadas de forma indireta. Esta mescla de atividades diretas e indiretas regidas pelo mesmo termo contribuiu para sua própria descaracterização, enquanto atividade estritamente clínica, contribuindo para as discussões que geraram a proposta um redirecionamento da atividade do farmacêutico clínico através do conceito de Atenção Farmacêutica ao final da década de 1980.

Fonte: Grupo Racine*

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